Valorizar os servidores do Ministério do Desenvolvimento Agrário é valorizar a reforma agrária, a agricultura familiar e o desenvolvimento rural sustentável e solidário!

quinta-feira, 24 de março de 2011

A força das mulheres contra a fome

José Graziano da Silva

Não constitui exclusividade brasileira a triste evidência de que a exclusão tem rosto e gênero e pode ser personificada na figura de uma mulher pobre, de baixa escolaridade, trabalhadora rural. O que nem sempre é lembrado é que a redenção desse símbolo da desigualdade pode significar, também, a redenção de um pedaço expressivo da fome, tornando a superação das discriminações de gênero no acesso à terra, ao crédito e a insumos uma das prioridades da luta pela segurança alimentar em nosso tempo.

O alcance dessa agenda não pode ser subestimado.

Nos países pobres e em desenvolvimento, 43% da força de trabalho agrícola é formada por mulheres. A Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO) acaba de demonstrar na edição 2010-2011 de sua publicação "O Estado Mundial da Agricultura e da Alimentação" que as restrições de gênero provocam uma produtividade de 20% a 30% menor nas lavouras sob controle feminino, em comparação com áreas equivalentes sob comando masculino.

A igualdade de acesso à terra, insumos e crédito poderia elevar a oferta de alimentos em até 4%, tirando de uma condição de subnutrição de 100 milhões a 150 milhões de pessoas num universo de quase um bilhão de famintos. Fechar o abismo de gênero traria desdobramentos ainda mais expressivos em economias asiáticas e africanas, onde se entrecruzam as manchas de fome mais densas do planeta e, não por acaso, as demografias femininas mais significativas da agricultura.

Enquanto na América Latina e Caribe a participação feminina na mão de obra agrícola é da ordem de 20%, na Costa do Marfim já atinge 36%; bate em 60% no Lesoto, Moçambique e Serra Leoa, sendo superlativa em praticamente toda a África subsaariana. Em muitos casos, tal hegemonia espelha o saldo de conflitos e doenças, como o HIV, ademais do êxodo maciço da força de trabalho masculina.

Razões migratórias distintas, decorrentes sobretudo da aceleração do ciclo industrial, têm peso significativo na China, onde a mulher representa 48% da mão de obra rural com viés ascendente. No Vietnã, quase 50% da produção de arroz, uma das mais importantes do mundo, tem por trás mãos femininas.

Independente da latitude, as produtoras rurais têm menor acesso à terra, a sementes, fertilizantes, ferramentas, tecnologia, extensão e crédito. O desequilíbrio se reproduz no controle das criações que representam 40% da renda no campo. Em todo o mundo, aproximadamente 400 milhões de mulheres agregam o cuidado dos rebanhos aos afazeres domésticos, que incluem a responsabilidade pelos filhos e a alimentação, bem como a de assegurar o suprimento de lenha para o fogo e água limpa para consumo.

A discriminação de gênero gera paradoxos desconcertantes. À medida que a demanda por proteína animal cresce no planeta e os pequenos rebanhos dão lugar a criações intensivas as titulares tradicionais são preteridas. Se tivessem acesso a linhas de crédito específicas para expandir seu próprio criatório - bovino, suíno ou a piscicultura - esse deslocamento seria significativamente menor.

A transição alimentar, ao mesmo tempo, abre uma janela de oportunidade à construção um novo estatuto de gênero no campo. Um leque cada vez mais variado de verduras e frutas frescas, mas também de carnes especiais, peixes, temperos e vegetais semipreparados atende à sofisticação do consumo urbano atualmente, indo ao encontro das aptidões femininas para reafirmar a urgência da democratização de direitos e oportunidades.

Entre as barreiras a serem superadas, uma das mais importantes é a extensão rural. Estudos anteriores da FAO (1988/89) em 97 países demonstraram então que apenas 5% da assistência técnica era dirigida às mulheres, que por sua vez representavam apenas 15% dos extensionistas.

Embora desvalorizadas, elas desempenham papel cada vez mais relevante nas decisões comerciais, sendo o personagem oculto por trás das análises de contratos e compromissos de compra e venda assinados pelos seus companheiros. No Brasil, desde a criação do Fome Zero em 2003 os programas de transferência de renda associaram o seu sucesso a essa aptidão administrativa, dando o cartão de benefícios à mulher da família.

Hoje, 93% dos repasses do Bolsa Família tem a mulher como titular. Idêntica percepção incentivou a criação do Pronaf-Mulher na área do crédito agrícola e canalizou às agricultoras volumes crescentes (24% atualmente) dos recursos destinados à aquisição de safra da produção familiar. A titulação conjunta da terra, obrigatória na política agrária brasileira, é outra conquista exemplar, a contrapelo da discriminação. Precede a essas decisões uma providência ao mesmo tempo simples e crucial: promover a documentação da agricultora, inclusive seu credenciamento comercial, para que possa, de fato, assumir as rédeas do seu negócio.

Num mundo de especulação financeira e eventos climáticos extremos, muitas vezes impermeáveis à ação local, superar a desigualdade de gênero nas políticas agrícolas não pode ser visto como um fardo. A força da mulher na luta contra a fome constitui um trunfo adormecido cujo despertar não pode mais ser adiado.

José Graziano da Silva está licenciado do cargo de Representante Regional da FAO para América Latina e Caribe

segunda-feira, 21 de março de 2011

Com discreto aval do Planalto, Contag avança sobre base da CNA

Mauro Zanatta de Brasília para o Valor Econômico

As relações sindicais no campo estão prestes a mudar. Um projeto de lei, que depende apenas de um pedido de urgência para ser levado ao plenário da Câmara, altera o enquadramento de mais de meio milhão de filiados para fins de contribuição sindical.

A modificação na Lei Sindical, já aprovada em três comissões da Câmara, abre uma guerra entre a Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag) e Confederação da Agricultura e Pecuária (CNA). Em jogo, está a disputa por influência política, controle de milhares de pequenos produtores em todo o país e por um cofre recheado pela contribuição obrigatória imposta por lei. Estima-se uma arrecadação superior a R$ 130 milhões no sistema CNA.

O projeto, de autoria do deputado Assis do Couto (PT-PR), aumenta, de dois para quatro módulos, o tamanho da propriedade ligada à Contag. Cada módulo tem entre 20 hectares no Sul e 400 hectares na Amazônia. Dessa forma, a CNA perderia algo como um terço de sua arrecadação, além da representatividade da classe estimada em 1,2 milhão de produtores. E sem nenhuma compensação. Ao contrário, o projeto retira punições hoje impostas pela Lei Sindical. Quem não paga em dia, vai para o cadastro de inadimplentes do governo federal (Cadin), o que bloqueia a concessão de incentivos fiscais e crédito rural ao produtor.

O projeto, patrocinado pela Contag desde 2003, altera o status do pequeno produtor, de categoria econômica para classe profissional. E introduz o conceito de agricultura familiar: mão-de-obra familiar, até quatro módulos fiscais, sem empregados, renda predominante da área, moradia na propriedade ou próxima dela.

O projeto também confere aos 4 mil sindicatos ligados à Contag musculatura para resistir ao avanço de uma concorrente de peso: a Federação dos Trabalhadores na Agricultura Familiar (Fetraf Brasil), criada em 2004, mas que já tem 500 mil filiados em 600 sindicatos de 18 Estados.

Hoje, todos os produtores com propriedades acima de dois módulos fiscais, e sem empregados, têm que contribuir para a CNA. Cerca de um terço dos filiados da CNA estão entre dois e quatro módulos. A Contag domina a representação até dois módulos fiscais, e sem empregado.

A contribuição sindical rural é feita com base nas chamadas "classes de capital social" ou no 'valor da terra nua tributável". São seis níveis. O primeiro, com valores de até R$ 2,7 mil, paga-se R$ 22. No último nível, acima de R$ 29,5 milhões, o imposto sobe a R$ 10,5 mil. Há valores adicionais para as classes intermediárias - de R$ 33 a R$ 4,5 mil.

Nos bastidores, a briga já esquentou. "Está em jogo a base do sistema sindical brasileiro. O projeto quer ter a representação em um só sindicato ou confederação", diz o vice-presidente da CNA, José Ramos Torres de Melo. Para ele, "não faz sentido" uma família, "sozinha" explorar 360 hectares apenas com mão-de-obra familiar. "É uma tentativa de fragilizar o sistema patronal com um critério ideológica sem base na realidade. É uma luta de poder insensata, pouco inteligente, de conceitos subjetivos e aleatórios", diz Melo.

Com apoio da bancada do PT e discreto aval do Palácio do Planalto, a Contag defende o projeto. "A lei é de 1971. A sociedade evoluiu, criou um ministério, uma lei da agricultura familiar. Temos que readequar isso", argumenta o presidente da Contag, Alberto Broch. Ele diz que o conceito de agricultura familiar já prevalece na Previdência, na reforma agrária e nos programas como Pronaf. "Essa é uma prioridade nossa. Tudo evoluiu para a conceituação de até 4 módulos fiscais. Quando trata da representação sindical, esse público de contribuição que está com a CNA é o nosso".

A Contag testará o apoio ao projeto durante o movimento Grito da Terra, marcado para meados de maio. E apresentará sua reivindicação ao governo e no Congresso. Como a pauta é negociada antes disso, certamente haverá um consenso para votar a urgência na Câmara em abril ou início de maio. Para isso, também terá o amparo da recém-criada Frente Parlamentar da Agricultura Familiar, que reúne 226 deputados e senadores.

ENCONTRO DISCUTE A ECONOMIA CAFEEIRA NA BAHIA

Do Bahia Notícias

Com a presença do ministro do Desenvolvimento Agrário, Afonso Florence, do deputado federal e relator do Novo Código Florestal, Aldo Rebelo, e de mais de mil produtores rurais, teve início na manhã desta segunda-feira (21), em Salvador, o 12º Simpósio Nacional do Agronegócio Café, o Agrocafé. Entre os temas discutidos estão a legislação ambiental brasileira e a revitalização da atividade cafeeira baiana. De acordo com João Lopes Araujo, presidente da Associação de Produtores de Café da Bahia (Assocafé), o bom momento experimentado pela cafeicultura brasileira não é suficiente para acabar de vez com as preocupações do setor no estado, que enfrenta problemas de infra-estrutura e segurança jurídica.

quinta-feira, 17 de março de 2011

União freia compra de terra por estrangeiro

Mauro Zanatta de Brasília para o Valor Econômico

O governo está determinado a conter e reverter o avanço de investidores estrangeiros em terras brasileiras. A Advocacia-Geral da União (AGU) enviou ontem um ofício ao Ministério da Fazenda orientando a instituição a criar regras, por meio de instruções da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), para impedir a aquisição de ações de companhias brasileiras detentoras de terras, e listadas na Bolsa de Valores, por empresas de capital estrangeiro.

O documento foi enviado, de forma reservada, ao ministro Guido Mantega em caráter de urgência. Por recomendação da AGU, a medida deve abranger todas as companhias de capital aberto detentoras de terras do país, segundo apurou o Valor.

Hoje, a empresa mais cobiçada nesses negócios é a SLC Agrícola, cujos ativos contêm uma ampla extensão de terras em vários Estados. Ela é um exemplo da situação que o governo procura evitar.

Mesmo sem ter capital aberto, a Radar, criada pelo grupo Cosan para administrar terras, também seria atingida pela medida do governo. A AGU enviou um ofício ao Ministério do Desenvolvimento recomendando o bloqueio de aquisições e fusões a partir da informação das Juntas Comerciais.

As compras de terras por estrangeiro vinham sendo fechadas com base em parecer da Advocacia-Geral da União (AGU) que dispensou autorização para a aquisição de imóveis rurais no país. Até 1995, o Artigo nº 171 da Constituição, depois revogado, permitia a distinção entre dois conceitos: empresa nacional de capital estrangeiro e companhia controlada por acionistas não residentes no país ou com sede no exterior. Nos debates internos, a AGU avalia ser uma questão de soberania garantir as terras exclusivamente para brasileiros. Os especialistas argumentam que a terra "é o que o país tem de melhor" e que não pode "sair vendendo" a qualquer preço.

De 2002 a 2008 houve uma avalanche de investimentos estrangeiros em terras no país. Dados do Banco Central apontam para aporte de US$ 2,43 bilhões no período. Se consideradas todas as atividades do agronegócio, como agroindústrias e serviços, a conta chega a US$ 46,91 bilhões em sete anos.

A decisão da AGU também abre a possibilidade de questionamentos jurídicos nos casos de aquisições e fusões anteriores à sua interpretação da Lei nº 5.709, de 1971. O texto limitava as compras a um quarto da área de cada município e previa que cidadãos de mesma nacionalidade não podiam ser donos de mais de 40% desse limite.

O governo avalia que precisa "fechar a porta" para novos avanços de estrangeiros, sobretudo chineses e árabes, que buscam no Brasil uma forma de garantir abastecimento alimentar. A AGU entende que a terra tem papel estratégico, além das questões comerciais.

Dados inéditos do cadastro rural do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) mostra que, até 2008, haviam 4,04 milhões de hectares registrados por estrangeiros. São 34.218 imóveis concentrados em Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, São Paulo, Bahia e Minas Gerais.

A AGU entende que o país tem muita terra, muita produção, mas precisa ter planejamento e instrumentos para garantir comida a mais de 200 milhões de habitantes no futuro. O governo avalia que a interpretação da lei é "viva" e pode mudar a cada período de tempo. O que antes demorava 30 anos para "caducar", hoje leva cinco anos.

O panorama produtivo mudou desde 1998, quando a própria AGU deu um parecer equiparando empresas de capital estrangeiro a companhias brasileiras. A exigência por zoneamentos econômicos-ecológicos (ZEE) poderia ficar manietada em caso de propriedade estrangeira da terra. Se o governo precisar induzir a produção de determinado produto em uma região específica, como ficaria a situação? Essa questão também ajudou a nortear a decisão da AGU.

quarta-feira, 16 de março de 2011

FAO alerta para risco de nova crise mundial alimentar

Reuters, 14/03/2011

ABU DHABI (Reuters) - O aumento nos preços globais de gêneros alimentícios básicos eleva o risco de que a crise alimentar de 2007-2008 em países em desenvolvimento se repita, disse nesta segunda-feira o comandante da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO na sigla em inglês).

Um salto nos preços do petróleo e o rápido consumo dos estoques globais de cereais poderiam ser um prenúncio da crise de abastecimento, disse o diretor geral da FAO, Jacques Diouf, à Reuters, em entrevista durante uma visita aos Emirados Árabes Unidos.

"A alta dos preços aumentam as preocupações e estamos reduzindo rapidamente os estoques", disse. "Durante anos temos alertado que é preciso maior produtividade e investimento em agricultura."

O índice de preços alimentares da ONU de fevereiro aumentou pelo oitavo mês consecutivo, para o maior nível desde, pelo menos, 1990. Todos os grupos de commodities, exceto o açúcar, aumentaram no último mês.

Diouf dizia, até alguns meses atrás, que os estoques globais de cereais estavam em níveis mais saudáveis que os restritos estoques que desencadearam a crise em 2007 e 2008.

Em julho passado, os níveis de estoque estavam em um total de 100 milhões de toneladas acima que os de 2007, mas o rápido crescimento econômico em países em desenvolvimento e um retorno ao crescimento em países altamente industrializados, levaram a novas reduções.

Alguns países no norte da África e no Oriente Médio fizeram grandes compras de grãos para evitar aquele tipo de conflito, em parte estimulada pelos preços dos alimentos, que derrubou os líderes da Tunísia e do Egito.

A Coreia do Sul está buscando construir uma estratégia de reserva de grãos e planeja comprar cargas de milho e outras mercadorias, em esforço similar ao de outra nações asiáticas, preocupadas com os altos preços dos alimentos e com os conflitos sociais.

Em dezembro, o México comprou milhares de toneladas de milho no mercado futuro, para se proteger de altas dos preços de tortillas, que provocou confrontos nas ruas em 2007.

"É algo racional de se fazer, para se proteger", disse Diouf.

O recente aumento dos preços do petróleo, que subiu para cerca de US$ 120 o barril no mês passado, está exacerbando os aumentos nos preços dos alimentos, que podem afetar a habilidade dos países em desenvolvimento de cobrir suas necessidades de importação, disse Diouf. Os preços do petróleo têm impacto nos custos de transporte e insumos agrícolas, incluindo fertilizantes.

Biocombustíveis

A FAO pediu aos países desenvolvidos que reexaminem suas estratégias de biocombustíveis --que incluem amplos subsídios-- uma vez que estes têm desviado 120 milhões de toneladas de cereais de consumo humano para produção de combustível.

"Estamos aconselhando os países membros a revisitarem suas políticas", disse Diouf. "Contar com mais energia renovável não significa que você precisa produzir mais biocombustível."

Países desenvolvidos dão US$ 13 bilhões anualmente em subsídios e proteção, para encorajar a produção de biocombustíveis, disse Diouf. Nos Estados Unidos, os estoques de milho chegaram a mínimas de 15 anos, enquanto maiores parcelas da safra são utilizadas na produção de etanol.

Evitar outra crise alimentar depende dos rendimentos da safra na próxima temporada de colheita, bem como do impacto do crescimento econômico sobre a demanda, segunda Diouf. Porém, ele também afirmou que o aumento do preços dos alimentos e do petróleo podem ter efeito prejudicial no crescimento.

Ainda é cedo para determinar se o recente terremoto e tsunami no Japão, maior importador de grãos do mundo, terá qualquer efeito na oferta global ou na demanda por produtos agrícolas, acrescentou Diouf.

terça-feira, 15 de março de 2011

Reunião entre a ASSEMDA e o gabinete do ministro

A ASSEMDA reuniu-se no dia 23 de fevereiro com a equipe do Ministro do Desenvolvimento Agrário, Afonso Florence. Após um ano de tentativas de se reunir com a gestão do Ministério do Desenvolvimento Agrário, o gabinete do ministro (representado pela Secretária Executiva Márcia Quadrado, pelo Chefe de Gabinete Welliton Rezende e o Secretário Executivo-Adjunto Jerônimo Rodrigues) recebeu a ASSEMDA, no dia de 23 de fevereiro, para tratar de questões políticas e de trabalho no MDA. A delegação da ASSEMDA foi composta por 10 pessoas entre diretores e conselheiros da ASSEMDA, além de associados da base da entidade.

A reunião foi aberta pelos representantes da ASSEMDA que apresentaram a "Carta ao Novo Ministro", enviada ao Ministro Afonso Florence após sua posse. Os onze pontos presentes na carta foram agrupados em seis eixos centrais: 1) questões salariais, 2) terceirizações irregulares e novo concurso público, 3) democracia e participação no MDA, 4) capacitação e formação, 5) condições de trabalho e 6) qualidade de vida. 

No primeiro eixo foi exposto a necessidade de equiparação salarial entre os servidores de nível superior que, após a promulgação da lei 12.277, possuem uma estrutura remuneratória diferenciada, e também de um aumento proporcional para os servidores de nível médio. Ainda dentro desse ponto, a diretoria salientou que apesar dessa medida representar uma melhoria salarial ela não resolve o problema remuneratório do ministério, que causa evasão de servidores para outros órgãos em busca de melhores salários, sendo necessário a implantação de um Plano de Cargos e Remuneração no ministério. A ASSEMDA pediu que o ministro se comprometesse a apoiar esta pauta remuneratória junto ao Ministério do Planejamento, orgão responsável por decidir a política de recursos humanos do governo federal em geral.

quinta-feira, 3 de março de 2011

Jornada das Mulheres da Via Campesina mobiliza nove estados contra os agrotóxicos

A Jornada de Lutas das Mulheres da Via Campesina já mobilizou nove estados denuncia os impactos para a saúde humana e para o ambiente do uso abusivo dos agrotóxicos e aponta a responsabilidade do modelo de produção do agronegócio.

Em todo o Brasil, as camponesas, em conjunto com outros movimentos urbanos, denunciam que o Brasil é o maior consumidor de agrotóxicos do mundo, inclusive de agentes contaminantes totalmente nocivos a saúde humana, animal e vegetal que já foram proibidos em outros países do mundo.

Segundo dados do Sindicato da Indústria de Defesa Agrícola, os estados de Mato Grosso, Paraná e São Paulo são, respectivamente, os maiores consumidores de veneno.

Nesta quarta-feira, aconteceram atividades em três estados: Ceará, Rio de Janeiro e Santa Catarina.

Confira o que aconteceu estado por estado:


No Rio de Janeiro, cerca de 300 mulheres trabalhadoras do campo e da cidade ocuparam a sede do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), no centro da capital carioca. O objetivo da mobilização é denunciar os altos investimentos e empréstimos do BNDES à indústria dos agrotóxicos e às transnacionais da agricultura, que compram e lançam os venenos agrícolas nas lavouras brasileiras.

No Ceará, mais de 1.000 mulheres dos movimentos sociais do Ceará, como o MST, o Movimento dos Conselhos Populares e a Central dos Movimentos Populares, fazem duas marchas para denunciar os impactos negativos para a saúde humana e para o ambiente com uso excessivo de agrotóxicos no Brasil e os impacto.

Em Fortaleza, mais de 600 mulheres marcharam até Palácio da Abolição, do governo do Estado, para denunciar a política de isenção fiscal que beneficia as indústrias de venenos e amplia o consumo de agrotóxicos em todo o estado. Em Santa Quitéria, 500 mulheres protestam contra a instalação da mina de Itataia.

Cerca de 500 mulheres da Via Campesina estão reunidas nesta quarta feira em Curitibanos (SC), no parque de exposição Pouso dos Tropeiros, com o lema, “Contra o agronegócio, em defesa da soberania popular”. O encontro iniciou com uma mística relembrando o porquê do 8 de março ser um dia de luta das mulheres trabalhadoras. No momento em que acontece o encontro, uma comissão está reunida com o governo do estado para reivindicar a pauta.

Na Bahia, 500 trabalhadoras rurais e urbanas realizaram uma caminhada em Vitória da Conquista em frente a Prefeitura e aos Bancos do Nordeste e Brasil para a reivindicação da liberação do Pronaf Mulher, renegociação das dívidas das assentadas e a construção de creches nos assentamentos. Em Petrolina, mais 500 camponesas ocuparam a sede do INSS junto com MPA, MAB, CPT, IRPA, Quilombolas e Pescadoras, para cobrar a implementação dos processos de aposentadoria das trabalhadoras rurais, auxílio doença e o salário maternidade.

Em Eunápolis 1500 mulheres ocuparam a fazenda Cedro pertencente à multinacional Veracel, no município de Eunápolis no dia 28/2. Hoje, as camponesas trancaram a BR 101 por duas horas. As trabalhadoras denunciam a ação do agronegócio no extremo sul da Bahia, com a produção da monocultura de eucaliptos praticada pela Veracel na região de maneira irregular, pois ocupa terras devolutas. Encontros para discutir a agricultura camponesa e sementes crioulas também estão previstos para os dias 05 a 10 de março, envolvendo os municípios de Pindaí, Caetité, Riacho do Santana, Rio do Antônio, Caculé, Brumado.

Em Pernambuco, 800 trabalhadoras rurais ligadas ao MST, ao Movimento de Pequenos Agricultores (MPA), ao Movimento dos Atingidos por Barragem (MAB) e à Comissão Pastoral da Terra (CPT) marcharam na manhã desta terça-feira (1/3) de Petrolina a Juazeiro, trancando a ponte que liga os dois municípios, denunciando a inoperância do Incra da região. No dia 28/2, mais 500 mulheres ocuparam o Incra da cidade de Recife como forma de chamar a atenção para a Reforma Agrária.

No Rio Grande do Sul, cerca de 1.000 mulheres da Via Campesina, Movimento dos Trabalhadores Desempregados (MTD), Levante da Juventude e Intersindical protestaram no dia 1/3 em frente ao Palácio da Justiça, na Praça da Matriz em Porto Alegre. Elas saíram em marcha do Mercado Público de Porto Alegre até o local. Integrantes vestidas de preto estiveram paradas em frente ao prédio, em silêncio, para lembrar que as mulheres têm sido silenciadas por várias formas de violência. Na mesma cidade, cerca de 1.000 mulheres ocupam o pátio da empresa Braskem, do grupo Odebrecht, no Pólo Petroquímico de Triunfo, região metropolitana de Porto Alegre. A manifestação tem o objetivo de denunciar que o plástico verde, produzido à base de cana-de-açúcar, é tão nocivo e poluidor quanto o plástico fabricado à base de petróleo.

Já em Passo Fundo (RS), 500 mulheres realizaram uma manifestação pública no centro, com atividades de formação no Seminário Nossa Senhora Aparecida.
No Sergipe, cerca de 1000 trabalhadoras rurais do estado estão acampadas na Praça da Bandeira de Aracaju. De 1 a 3 de março, elas participarão de atividades que denunciam os agrotóxicos, o agronegócio, a criminalização dos movimentos sociais e a violência da mulher.

Em Minas Gerais, o Fórum Regional por Reforma Agrária do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba ocupou a sede da Fazenda Inhumas, em Uberaba, no sábado (26/2), em ação que envolveu 200 famílias. O evento marca as atividades do 8 de março e discutirá com cerca de 500 mulheres a violência causada pelo agronegócio, as consequências do uso de agrotóxicos e as alternativas para transformação do modelo discriminatório estabelecido no campo e na cidade.

Em São Paulo, desde o início desta sexta-feira (25/2), várias mulheres do MST, realizam ato de denúncia e reivindicação na frente da Prefeitura de Limeira, próximo da Campinas. No último dia 24/2, cerca de 70 mulheres do MST e da Via Campesina realizaram a ocupação da prefeitura do município de Apiaí, localizado na região Sudoeste de São Paulo para reivindicar o acesso aos direitos básicos como: saúde, educação, moradia, transporte e saneamento básico, que vendo sendo negados pelo município às famílias acampadas.

Contato com a imprensa
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Igor Felippe (SP)- 11-9690-3614

Mulheres do MST ocupam terras da Multinacional Veracel em Eunápolis

Mais de 1.500 mulheres integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), ocuparam por volta das 05:00h da madrugada desta segunda feira, 28 de fevereiro de 2011, a fazenda pertencente a empresa Veracel Celulose que fica localizada a oito (8 Km) do centro de Eunápolis, numa área conhecida como região da Roça do Povo.

De acordo com as Líderes do movimento, a ocupação sistemática das mulheres militantes do MST na área da Veracel, faz parte do calendário das comemorações do dia 08 de março, Dia Internacional das Mulheres, informaram também que outras ocupações poderão ser realizadas em outras áreas, no estado da Bahia.
Em entrevista ao portal de notícias VOCEAKI, a dirigente Eliane Oliveira, falou sobre os motivos da ocupação: "Nós mulheres do MST, estamos felizes por realizar esta ocupação, já faz tempo que estamos fazendo esse enfrentamento com o agronegócio na região de Eunápolis e aqui é a veracel. Essa é a primeira ocupação que nós mulheres fazemos no estado da Bahia e amanhã é o dia 1º de março, o mês que se comemora o dia Internacional das Mulheres, quem sabe, a nossa presidente Dilma, se sensibilize e coloque em pauta a reforma agrária que até o momento, ela nao se pronunciou sobre essa questão social. Estamos reivindicando: Projetos para as Mulheres, Políticas Públicas para as Mulheres, Reforma Agrária para assentar 4.500 famílias acampadas na Regional Extremo Sul. Entendemos que se o governo federal e estadual quiserem, a reforma agrária acontecerá. Nós queremos que o governo analise e veja de que forma vai assentar essas famílias, enquanto isso, o agronegócio cresce na região", desabafou a militante.

Lucinéia que também é uma das líderes da ocupação, disse à nossa Reportagem: "Estamos ocupando esta área porque faz parte da jornada de luta do MST Nacional, em abertura das comemorrações do dia Internacional da Mulher. A veracel é a simbologia do agronegócio na região, que concentra terras, que planta em monocultivo, que não distribui rendas e portanto nao muda a vida das pessoas. Há mais de 11 anos estávamos fazendo acampamentos temáticos em Salvador, realizando seminários para debater as questões que nos afligem no nosso cotidiano, agora resolvemos fazer acampamentos no extremo sul da Bahia. Estamos fazendo esta ação, ocupando uma área de um latifúndio do agronegócio, para questionar com legitimidade, quais as metas e prioridades do governo Dilma para a reforma agrária. Estamos reivindicando as terras concentradas no poderio do agronegócio, para serem distribuidas ao agricultores, aos trabalhadores e trabalhadoras, queremos dignidade, onde contemple a saúde, a educação, uma qualidade de vida melhor para nossas famílias, portanto, queremos a reforma agrária já", explicou ela.

As militantes do MST armaram tendas e barracas, como acontece em outros acampamentos, estavam portando facões, foices, enxadas e já iniciaram uma plantação de feijão e milho. Foi improvisado no local barracões para servirem de escola para as crianças, visto que no grupo existem dezenas de alunos e professores do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra.

A discussão em torno da participação das mulheres Sem Terra na luta por Reforma Agrária e pelo fim da discriminação, vem desde o começo do MST. A própria forma de organização do Movimento leva essas mulheres a buscarem a superação das desigualdades, tanto econômica como de participação no MST. Todos os anos no dia 8 de março, Dia Internacional da Mulher, as mulheres do MST colocam em pauta suas reivindicações.

Já faz alguns anos que está sendo feito esse debate para transformar o 8 de março em um dia de luta das mulheres no MST, essa data foi se tornando um dia de valorização da beleza, do comércio e da confraternização.

Evanildo Costa, Coordenador regional do MST, comentou sobre a ocupação das mulheres na área da Veracel: "Esta ação foi amplamente composto por mulheres do movimento, que além de participarem das lutas do cotidiano,  têm o foco nas garantias dos seus direitos e de suas familias. Foi um ato grande, ato de tantos outros organizados e executados pelas mulheres sem terras", finalizou Evanildo.

Compareceram ao local da ocupação, os Dirigentes do MST, Paulo César, o PC, Luciano, Preto, Evanildo Costa e Márcio Matos, o Marcinho da Direção Nacional do Movimento.